quarta-feira, 28 de maio de 2008

Saudade - Junqueira Freire

Saudade


Ao meu amigo Frei Bento da Trindade Cortez,
atualmente no Mosteiro do Rio de Janeiro.
... porque lágrimas também são amor.
Dr. J. J. B. de Oliveira


Em minhas horas de noturna insônia,
Com os olhos fitos no porvir longínquo
Eu penso em mim, - e na segunda idéia
Encontro-me contigo.

Eu te pranteio no arrebol da aurora,
Que em teu exílio meditando esperas.
Envolto num crepúsculo te enxergo
A deplorar teus fados.

Nas nuvens de sangüíneas listras
Lágrimas verto que sobre elas mando,
Partem, - porém do caminhar cansadas
Descaem no oceano.

Desesperado então, maldigo o espaço,
Maldigo o céu e a terra, o vácuo e o pleno.
Em cada criação deparo um erro.
Nem acho Deus tão sábio.

E na minha alma se desenha ao vivo
Melhor, mais belo, mais ditoso, um mundo.
Tiro do nada, sem ausência e males,
Um orbe todo novo.

O amor da pátria que os tiranos banem,
Não choraria maldições e sangue.
Nem tu nem eu seríamos cortados
Por divisões de abismos.

Mas quando ainda não acabo o sonho,
Diviso armadas que vão mar em fora.
Desperto, e caio nos aéreos braços
Da quimera sublime.

E mais amargo te lamento a sorte,
Tu, mártir feito pelas mãos dos bonzos,
Invoco o céu que entornará sobre eles
Alabastros de anátema.

Ligando a mim teu coração dorido,
Que a teus amigos em penhor deixaste,
Tateio nele as emoções tão vivas,
Que em teu desterro sofres.

Conheço as aflições que te salteiam,
Nobre proscrito. O sol, a lua, os astros.
Cruzam teu ponto, e trazem-me sinceros
Tuas ingênuas dores.

Sim! para os claustros não nasceu tua alma.
Teu coração não te palpita - Monge.
Nem tão baixo teus ímpetos serpenteiam,
Que um cárcere os contente.

Nesse vasto palor que te orna a fronte,
- Sinal dos homens de profundo gênio,
Eu leio a grande e destemida idéia,
Que não cabe nos claustros.

Deserta, ó gênio, do covil imundo,
Onde o leão dos vícios se alaparda.
Ah! esta cela, onde a indolência dorme.
Não pode, não, ser tua.

Coral guardado nas flumíneas urnas,
Quem há de te arrancar do equóreo fundo?
Não serias mais belo, em áureo engaste,
No colo de uma virgem?


Junqueira Freire
(Bahia, 5 de Agosto de 1854)



• "Fica evidente o teor complexo de sua mensagem poética, comum aos Românticos e vulnerável à penumbra do segundo período da geração Romântica no Brasil. Alguns tópicos como o drama da escolha errônea em sua vocação, aliada à crise moral e o conflito interior que o levou a retroceder em sua opção, refletem no horror ao celibato; no desejo reprimido que o perturbava e aguçava o sentimento de pecado entre a oração e a heresia; na revolta contra a regra, contra o mundo e contra si; no remorso e, como conseqüência, na obsessão da morte. Um tumulto, um confronto de ideais comprimidos às celas do mosteiro, externado mas não suprimido. Além de um sentimento brasileiro que beirava o ufanismo, e uma tendência antimonárquica, social e liberal. "


Carol Toledo •

Vozes D'África - Castro Alves

Análise da obra "Os Escravos"

Castro Alves não foi o primeiro poeta romântico a tratar do tema da escravidão, mas nenhum outro se engajou tão veementemente à causa social e humanitária do abolicionismo quanto ele. Em seus versos, procurou ressaltar as implicações humanas da escravatura, adequando a sua eloqüência condoreira à luta abolicionista. Retratou o escravo de modo romanticamente trágico, tentando despertar a sociedade – depois de três séculos de escravidão – para o que havia de mais desumano nesse regime. O maior exemplo desse retrato está em "A Cachoeira de Paulo Afonso", longo poema narrativo, escrito em 1870, pintado com fortes cores dramáticas, que conta a história de amor de dois escravos.


1.Condoreirismo

Castro Alves foi o principal e mais popular representante do estilo romântico que predominou na poesia brasileira entre 1850 e 1870, denominado condoreiro por Capistrano de Abreu (1853-1927). É caracterizado por uma poesia retórica, em que se destacam os temas sociais e políticos, principalmente a defesa da abolição da escravatura e a apologia da República. De teor declamativo e pendor social, um dos símbolos mais freqüentes do condoreirismo é a imagem do condor dos Andes – ave que representa a liberdade da América –, o que sugeriu a Capistrano de Abreu a denominação dada ao estilo.
• Para lembrar:
Os poetas condoreiros foram influenciados diretamente pela poesia social de Victor Hugo – o condoreirismo é o hugoanismo brasileiro.

2. Ênfase social

Diferentemente dos seus predecessores, como Junqueira Freire e Álvares de Azevedo, Castro Alves projeta o drama interior do escritor (o eu), sua intensa contradição psicológica, sobre o mundo. Enquanto, para a geração anterior, o conflito faz o escritor voltar-se sobre si mesmo, pois a desarmonia é resultado das lutas internas (ultra-romantismo), para Castro Alves, são as lutas externas – do homem contra a sociedade, do oprimido contra o opressor – que provocam essa desarmonia. É outro modo de representar o conflito entre o Bem e o Mal, tão prezado pelos românticos. A poética deve, portanto, identificar-se profundamente com o ritmo da vida social e expressar o processo de busca da humanidade por redenção, justiça e liberdade.
• Para lembrar:
O poeta "condoreiro" tem um papel messiânico e afinado com seu momento histórico. Esse comprometimento faz a poesia se aproximar do discurso, incorporando a ênfase oratória e a eloqüência.
Nos poemas de Os Escravos, a poesia é suplantada pelo discurso político grandiloqüente e até verborrágico. Para atingir o alvo e persuadir o leitor e, muito mais, o ouvinte, o poeta abusa de antíteses e hipérboles e apresenta uma sucessão vertiginosa de metáforas que procuram traduzir a mesma idéia. A poesia é feita para ser declamada e o exagero das imagens é intencional, deliberado, para reforçar a idéia do poema. Os versos devem ressoar e traduzir o constante movimento de forças antagônicas.

[Daí pra frente, há uma grande análise do poema "Navio Negreiro"]




http://www.klickeducacao.com.br/

Este site é muito bom para a realização de pesquisas! Ele é direcionado especialmente para trabalhos escolares e para professores. Para usufruir do conteúdo do site é necessário se cadastrar , mas eu garanto que é tudo muito seguro e a única informação mais pessoal que o cadastro pede é o e-mail. Realmente vale a pena!

Carol Toledo

domingo, 25 de maio de 2008

Vozes d'África, de Castro Alves

Castro Alves foi um jovem entusiasmado pelas grandes causas da liberdade e da justiça. A campanha contra a escravatura lhe inspirou Vozes d'África e Navio Negreiro, ambos escritos em 1880.
Ele, como ninguém, impingiu os acentos da poesia ao exprimir a dor de todo um continente em Vozes d'África, poema de estilo épico, que pertence ao livro Escravos. O autor, divergindo do indianismo, passou à História como o poeta dos escravos, ao criar poemas abolicionistas como este.
Vozes d'África, o último dos mais importantes poemas que o poeta escreveu em São Paulo, para os escravos, é uma alegoria do pungente destino da raça africana, vista não já através de um navio negreiro, mas em seu próprio e vastíssimo habitat. É uma doce prosopopéia em que a África narra suas desgraças e impetra a misericórdia divina, portanto,
o eu-lírico, neste poema, é a África, que se queixa a Deus pela desventura de ver seus filhos arrebatados do solo pátrio para serem escravizados, e lançados ao desamparo. É soberba apóstrofe do continente escravizado, a implorar justiça de Deus. O que indignava o poeta era ver que o Novo Mundo, "talhado para as grandezas, pra crescer, criar, subir", a América, que conquistara a liberdade com formidável heroísmo, se manchava no mesmo crime da Europa.


http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/v/vozes_d_africa

Este site possui comentários de diversos livros e poesias. Vale a pena conferir!


Roberta Monteiro
intertextualidade com o poema do autor estudado-Castro Alves.

Vozes d'África
Agepe
Composição: Ivor Lancellotti e Paulo Cesar Pinheiro


Os negros
Chegaram de além-mar
Jogados no frio dos porões
Dos barcos, que vinham pra mercar
Escravos, pro chão das plantações
Senhores
Passaram a deitar
Com as negras
No branco dos colchões
E as brancas puderam saciar
Com os negros, desejos e paixões
Foram reis e súditos
Através dos séculos
Misturando os hábitos
Emoções e ritmos
Foram sangue e lágrimas
A escorrer das vítimas
E hoje a nossa música
São as vozes d'África


Aline Detoni

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O navio negreiro é uma obra que inspirou vários autores, sejam eles de filmes, livros, poemas...
Como exibido em sala, pelo professor, o filme "Amistad" temos também "Chico Rei" de Walter Lima Jr. que exemplifica muito bem a situação dos escravos nestas embarcações.
Como curiosidade, segue abaixo um trecho do discurso de posse do atual ocupante da Cadeira número 7 da Academia Brasielira de Letras, cujo patrono é Castro Alves:

"Se "O navio negreiro" tivesse sido escrito atualmente, diríamos que Castro Alves utilizou, no curto terceiro movimento, técnica cinematográfica: a câmara, funcionando como o olhar do espectador, começou a baixar lá do alto, de onde se via o barco pequenino, e a dele se aproximar, até chegar às personagens no convés. Ou se poderia imaginar, de uma perspectiva mais moderna, que o poeta empregou um zoom. É o albatroz, que Castro Alves invocara no fim do primeiro movimento, que faz o papel da câmara:
"Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais, inda mais... não pode o olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador.
Mas que vejo ali... que quadro de amarguras!
É canto funeral!... Que tétricas figuras!...
Que cena infame e vil!... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!""

Aline Detoni

sábado, 19 de abril de 2008

Livros

Olha só gente, eu recebi um e-mail com uma lista de livros que podem ser baixados gratuitamente. Nessa lista, estão clássicos da literatura brasileira e mundial, livros de autores como Machado de Assis, Fernando Pessoa, William Shakespeare, Gil Vicente e outros. A lista tem mais de 180 livros. Quem quiser que eu mande o e-mail, é só falar comigo ok!?

Vou colocar alguns links de livros que são do Romantismo:

A Moreninha -Joaquim Manuel de Macedo
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2023

Iracema -José de Alencar
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2029

O Guarani -José de Alencar
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1843

As Primaveras -Casimiro de Abreu
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2173

Noite na Taverna -Manuel Antônio Álvares de Azevedo
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1734

Amor de Perdição -Camilo Castelo Branco
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=7521

A Brasileira de Prazins -Camilo Castelo Branco
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1778

O Navio Negreiro -Antônio Frederico de Castro Alves
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1786

Cinco Minutos -José de Alencar
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1836

Lucíola -José de Alencar
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2047

A Viuvinha -José de Alencar
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2089


*Claudinha

sábado, 12 de abril de 2008

O ESPÍRITO DA LETRA
(Um poema de "A balada do cárcere")

Ao pé da letra agora, em minha vida
há a morte e uma mulher... E a letra dela,
a primeira, me busca e me martela
ouvido adentro a mesma despedida

outra vez e outra vez, sempre espremida
entre as vogais do amor... Mas como vê-la
sem exumar uma vez mais a estrela
que há anos-luz se esbate sem saída,

sem prazo de morrer na luz que treme?!
O mostro que eu matei deixou-me a marca
suas pernas abertas ante a Parca

aparecem-me em tudo: é a letra M
a da Medusa que eu amei, a barca
sem amarras, sem remos e sem leme...

(Castro Alves)


*Claudinha